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5 de setembro de 2010

POSITIVO E OPERANTE!


LEVAR - Mesmo sem muita força, levamos a situação adiante, quando o dia é bonito e a vida acerta isso dentro de nós, em silêncio... | imagem: Val da Costa

VALDÍVIA COSTA

Estava muito difícil manter a calma, levantar os espíritos, animar, depois de despencar... Aí pensamos em algo realmente produtivo: não reclamar. Já que a fala estava ressecando nossos sentimentos, guardamos as palavras, as insatisfações. O intuito era respirar, oxigenar ideias velhas, limpá-las, colocá-las numa estante que simbolizasse a paz. Antes de cairmos no tédio das manutenções...

Notamos o ambiente mais ameno, nos primeiros dias, com cara de quem resolve tudo quando chega... Mas ficávamos nos remoendo por dentro, querendo largar tudo de vez, abandonarmo-nos à deriva, deixarmos a corda ir afundando num mar profundo e denso, sem solução aparente. Apenas deixar pra lá as coisas.

Dias amenos sempre são acompanhados de reflexões, visto que o silêncio é adubo para o pensar. Muitos passos em direções opostas acabam se chocando, um dia. Evitávamos o elevador juntos, pra que um simples desabafo não ruisse aquele frágil castelo de areia que criamos ao vento. Protegemos, guardamos, empurramos o gorfo de goela abaixo...

Apenas o barulho diminuiu. Dentro de nós eram que gritavam as vontades reprimidas. Em mim mesmo, elas se uniam, subiam uma em cima da outra, chegavam à minha garganta, estremeciam aquele pacto idiota que todos sabiam não ia funcionar, e não conseguiam gritar. Eu sentava e diluia a mágoa nesse copo ácido do recato fingido.

Mesmo se quiséssemos revolucionar, não conseguiríamos porque não há crentes. Nem a gente acreditou mesmo nas mudanças. Então foi melhor libertar-se. Dar asas à língua é despencar-se nas verdades cotidianas. Elas se agarram à barra da saia, nos puxam para a realidade, mas ignoramos a sinceridade e usamos "a política" para asfixiá-las.

Foi preciso desprender-se. Era urgente uma separação. Os conflitos já se misturaram e, quando isso ocorre, muita água molha tudo. Aguados estamos nesta semana sem fim, emendada na outra devido ao trabalho. Por esta falta desmedida, desistimos do ataque, do conserto, da conversa. Desviamos o caminho e outro silêncio nos aguarda.

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