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22 de setembro de 2010

XÔ, ASSÉDIO!

DRIBLE - Gritos, perseguição e maus tratos no trabalho são o tripé do assédio moral, prática abominável para a Justiça. | imagem: Simples soluções
 VALDÍVIA COSTA

Como não deve estar feliz uma ex-funcionária de uma empresa de João Pessoa! Feliz em parte, pois a outra metade dela já foi terrivelmente atingida por uma prática ainda não estipulada como crime, com Lei própria, mas já repudiada pela Justiça brasileira. Falamos do assédio moral, que causou várias doenças nessa mulher vitoriosa, mas que agora receberá uma conciliação milionária pelos danos.

A notícia é da semana passada, mas é boa e vale ser difundida diversas vezes pra mostrar aos descrentes que a justiça pode ser feita. Em audiência do juiz Arnaldo José Duarte do Amaral, na 9ª Vara do Trabalho de João Pessoa, representantes de uma empresa, condenada por assédio moral, concordaram em pagar uma indenização no valor de R$ 1.265.000,00 a ex-funcionária.

Quando soubemos respondemos à colega Paula Brito esfuziantes! "É possível se fazer um mínimo de justiça neste Estado tão ultrapassado e recorrente nessas práticas medievais. Relembrei nossa luta no movimento Novos Rumos em 2008, nossa intolerância com essas práticas, apesar de sofrê-las no dia a dia, e nossa audácia em dizer aos superiores, colegas e a todos o quanto nos incomodávamos...", escrevemos e enviamos para os grupos de comunicação.

Para que tenhamos em mente a consciência de que errados são os assediadores e não nós, que nos defendemos denunciando. De acordo com a notícia publicada no Portal Correio, os milhões serão pagos em 32 parcelas, a partir do próximo dia 11 de outubro, em valores entre R$ 20 mil, R$ 25 mil e R$ 50  mil/mês. No processo nº. 00751-2008-026-13-00-3 (2009), a empresa foi condenada por danos morais e materiais em audiência da juíza substituta Mirella D’arc de Melo Cahú Arcoverde de Souza.

imagem: Curiosidades de Ana
Caso - A ex-funcionária, provavelmente uma jornalista, relatou que trabalhou na empresa por dois períodos e sempre se destacou no trabalho, já que conseguia atingir metas acima do esperado por seus superiores. Pelo desempenho foi promovida cinco meses depois de contratada, ficando responsável por sucursais em vários estados do Nordeste. Em razão de condutas ilegais praticadas pelo diretor-geral da empresa e outros funcionários, adquiriu doenças irreversíveis. Ela hoje recebe auxílio-doença por sofrer de quadro depressivo associado a fibromialgia, com quadro degenerativo da coluna vertebral e outras doenças. Os laudos médicos confirmaram que as doenças estão relacionadas ao trabalho. Enquanto esteve na empresa, a ex-funcionária sofreu inúmeras pressões psicológicas, sendo acusada de crime de falsidade e recebeu várias ameaças de demissão. Ela diz que foi obrigada a atingir metas que considerava desumanas, além de ter que pressionar funcionários a cumpri-las, quase impossível.
O que você faria numa situação como esta? Muitos seguem, sem medir esforços, pra conseguir "as metas" da empresa, e passam por cima do ser humano que está do lado. Outros deixam o emprego, a profissão, a cidade. Mas poucos denunciam. Leiam texto raivoso de maio de 2008 sobre o assédio moral nas redações.

Xô, assédio! 
(publicado pelo NOVOS RUMOS)

O movimento de oposição sindical é totalmente intolerante quanto ao assédio moral nas redações. Uma prática jurássica, que se repete ao longo dos anos, sem que os novos jornalistas encarem como uma atitude abominável, visto que somos letrados e preparados para lidar com a comunicação. Determinados profissionais devem adotar posturas mais resistentes em relação ao assédio. Tudo começa pelo ato de se informar. Pautados para guiarem intelectuais ou pessoas dotadas de pré-requisitos mínimos para lidar com informação e conhecimento, os chefes dos jornalistas - que também são jornalistas - na maioria das vezes, se acham o máximo. Com mau humor, estresse altíssimo e uma falta de noção terrível, eles exigem e punem, muitas vezes, com desrespeito profissional, sem escrúpulo algum, como nas práticas militarescas de antigamente. Desconfio que nem na Polícia Militar tem tanta reclamação de "superiores" que afetam a saúde do funcionário como em redações jornalísticas. Em quase todas elas, o problema sempre é o mesmo, em se tratando de assédio moral. Qualquer erro é motivo para o escracho, a maioria das vezes, em público. O perfil que se cria com essas atitudes é de um profissional sempre subalterno e sem atitudes inovadoras. Por outro lado, a criatividade, grande aliada do jornalismo, não surge em ambientes assim. E a produtividade é baixa, com os maus tratos no trabalho. Mas quem for chefe e usar desses artifícios deve estar afirmando que não há outra forma de tratar jornalistas. E eu, desafiadoramente, digo que sim, tem como tirar produtividade da equipe. Mas, com investimento em reeducação e preparo. Não conheço nenhuma redação, de rádio, TV, impresso ou site, na Paraíba que motive seus funcionários de maneira correta, com capacitação e oferecendo recursos mínimos para a execução do trabalho exigido. Podemos afirmar, em nossas andanças de campanha sindical, que tem redações sem condições de trabalho. Algumas não têm nem o obsoleto gravador, que dirá ferramentas mais eficientes. Muitos jornais reclamam da falta de dinheiro em seus cofres, da falta de venda, no caso dos impressos, e da falta de matérias interessantes para se criar um público maior. E tudo acaba sendo culpa do repórter. Mas, se houvesse um reconhecimento pelo suor derramado, além do engessado salário, talvez houvesse mais empenho ou amor ao meio de comunicação em que o jornalista está empregado. A bonificação é praxe em grandes indústrias que querem tirar muito além das suas metas. Alguns empresários a utilizam para conquistar um compromisso a mais do funcionário. Na Paraíba, nem assinatura de jornal os repórteres recebem como gratificação. E isso sempre é pedido nas convenções entre empregadores e sindicato. Perante o cenário de total falta de estrutura física nas redações e de reciclagem dos jornalistas, como ser desumano nas cobranças? Sendo um chefe ou editor cara de pau, como a maioria se mostra ser. Porque só sendo descarado para escandalizar e se divertir com a restrição do outro. Se todos eles tivessem capacitação para a liderança, o que não têm, talvez essa prática sem retorno produtivo do assédio moral fosse extinta.

5 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Se o assédio moral for denunciado, haverá sempre possibilidades de corrigir ou estirpar o autoritarismo com que se tentam impor os que não têm qualquer valor para a sociedade.
Tentam afirmar-se impondo medos e receios.
Deve ser difícil demonstrar este assédio, mas esta condenação é exemplar.

Cumprimentos

Anderson Ribeiro disse...

Bom saber que algo já foi feito. Onde trabalho não é diferente. Já fui vítima e presenciei tb colegas sofrendo com isso.

Rosaliriss Alencar disse...

Não só Jornalistas, mas vários profissionais sofrem desse mau que acomete empresas frutos do capitalismo selvagem! E da crueldade humana tambem! É bom iniciativas como essas tornando nossa sociedade mais esperançosa e justa. Muito bom texto Val.

De acordo com disse...

Sabemos que é difícil denunciar ou ser testemunha de algum caso de assédio moral. Mas lembrem-se que o medo é quem domina, não a coragem, que é imposta, nesses casos, em doses homeopáticas. Só não dá é pra ficar calado. 0/

Dalmo Oliveira Silva disse...

Beleza Val! Continuamos atentos e denunciando a prática danosa do assédio moral nas redações jornalísticas. É bom ver que os juízes estão mais intolerantes com a prática.
abs