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18 de novembro de 2010

ÓÓÓDIO...


ODIOCULTURA - Larva quente presa dentro de semente flutuante do ódio, que pega fácil no humano. | imagem: Livro do ódio
VALDÍVIA COSTA

“Ai, que vontade de apertar uma gargantaaaa!” Nem queria saber se estava ridícula no meio da redação. Estava puta! Queria mais era matar um, com toda a ira que sentia, que estremecia seus braços pra esmurrar as coisas, pra levantar as mãos pra o céu, coreografando os gritos...

“Desculpe, eu não sabia que não era...” Bastou essa pequena frase, dita com um fio de voz trêmula, pra despertar o demônio da editora que virou bicho. “E você não sabe perguntar não?! Não sabe respeitar uma hierarquia?! Hem, criatura?!” Rajadas de fogo em direção à petrificada vítima, que só desabou num choro doloroso, de quem tem alguém pra sustentar.

Dentro da técnica em informática humilhada ficou aquela semente murcha, de cor púrpura, que, se quebrada, deveria inundar umas duas cidades com a larva do ódio. O magma a queimou por dentro, principalmente quando dormia, numa ebulição que ela esquecia ao acordar pra o trabalho, que se tornou tortura, um fardo pesado demais pra levar.

Estresse. Calor. Descontrole. Confusão na cabeça, no coração, naquela reunião que não deu certo, naquele pedido que foi negado... Quando tudo se misturou, num dia até bonito, mas sem perspectivas de melhora humana, ela também explodiu. Sem notar que foi dominada.

“Vai te lascar!”, berrou para o colega, não escolhendo palavras. Lembrou da infância pobre, das brincadeiras por suas roupas desbotadas, da incompetência por ser medíocre, da fragilidade por ser mulher... Alguém com tanta memória e tamanho armazenamento rancoroso não escolhe a fala. Ainda investiu dois socos contra o colega, que recebeu a mesma semente, guardando-a em si.

O rapaz não entendeu o que deu na colega, mas, ao chegar em casa, cansado, sem paciência para ouvir ou dizer qualquer coisa, colocou a cabeça entre as pernas, urrou sua mágoa por ter sido atingido pela raiva feminina. Com a rotina, a primeira memória dele esqueceu o ataque, até porque recebeu o pedido de desculpas da colega. Mas num canto deslocado, a semente já brotava...

Dos pequenos galhos da planta que só esticava-se nasceram a desconfiança de uma possível traição. A mulher do homem que foi agredido de graça recebeu uma descarga de 1000 Wolts por ter esquecido uma tarefa doméstica. Só isso bastou para ela ser espancada durante uma semana. Ao reclamar das dores da agressão, levou 14 facadas nas costas e morreu na frente da filha caçula.

A menina foi pra casa da tia materna. Pegou o primo bebê e estrangulou-o silenciosamente. “Vai, vai... morre logo...”, dizia baixinho, enquanto sufocava a boca da criança com a fralda. Quando a tia descobriu o “acidente”, ela estava na frente de casa, brincando de rodar. Os gritos a assustaram, mas não ao ponto de confessar. Foi a “pessoa” que mais deu carinho à tia. “Ela vai me amar...” pensou a pequena mente estufa com 537 sementes púrpuras do ódio.

3 comentários:

Oziella Inocêncio disse...

Brilhanteeeeeeeeeeee!
Querida Val! Que texto fantástico!

li num golpe só

beijos

Aninha Santos disse...

Passeando pelos post ganhei esse presente. Cru. Vivo. Excelente! Xêro pra tu!

De acordo com disse...

Obrigada, amores (Ozy e Aninha)! Bjs