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27 de dezembro de 2010

ANIMAIS DE RUA DE JARDIM

"AVON" - Gatos, em suma, são assustados... mas os que moram nas ruas de Jardim são totalmente zen. | imagem: Val da Costa
Gatos de rua gordos existem. Eles moram em Jardim do Seridó-RN. Nove deles miavam numa manhã ensolarada, como todas as manhãs seridoenses. Nas balaustradas da "igreja do alto", eles se enfileiram, preguiçosos de tanto comer, deixando suas caldas longas estendidas, balançando ao vento. Nas seis tábuas postas arrodeando o canteiro lateral da igreja, comida de panela, leite e carne.

O banquete é posto por todos os moradores do Largo do Coração de Jesus. São bichos bandoleiros, mas protegidos e cuidados por senhores e senhoras moradores de uma cidade pacata, de menos de 10 mil habitantes. "Tome leite, tome... chegue, 'ome', tome leite, tome...", adulava a senhora com uma sombrinha rosa, em plena 10h.

Com as caras mais curiosas do mundo, cinco gatos se reuniram pra observar o que tinha na vasilha de plástico. Ao contar que tinha "muita pena" dos bichanos, a senhora lembrou-se de um gato lindo que ela teve. "Ele era grande, mimoso... nenhum desses de rua encostava na calçada... era um gato de guarda... mas, numa de suas andanças, caiu num tanque de água e morreu... era jovem, tinha sete anos... os gatos vivem até 20 anos...", lamentava, enquanto os gatos já bebiam o leite, como que embalados por aquele conto matinal felino. Cena bucólica humana pacífica...

O quanto podemos ser bons para a vida e para nós mesmos? Ao alimentar um bicho de rua, a gente mata a fome de ajuda que todo ser humano tem e não satisfaz, principalmente por refletirmos, como essa senhora, sobre todos os bichos que as cidades matam. Bichos que deveriam ser domésticos, já que assim os "fizemos". Mas que são abandonados por estarem velhos, doentes ou feios.

O ato de cuidar de animais de rua é comum em Jardim. No final dos anos 1990, caminhantes criaram um gatódromo. "E lá só os gatos são assistidos?", podem questionar. Mas quase não há cães de rua na cidade. Pode ser preferência por felinos ou falta de violência, o que dispensa os latidos do 'guarda' no quintal. O fato é que, do gatódromo, um local ermo, perto das algarobas e juremas da ponte do Riacho das Cobras, um ou outro que caminhava a BR 101 cuidava com ração, leite, carne... caixas de papelão pras 'casas dos bichanos' e até a higienização do local, que tinha uns 100 gatos, de todo tamanho.

Próximo ao canal, dentro da cidade, os moradores também sustentam os animais de rua com comida e remédios. Enfim, é uma cultura. Interessante porque casa bem com o aspecto ecológico da cidade, que tem variados tipos de pássaros também, enfeitando tudo. Viver bem é o equilíbrio que esses animais conseguiram ter com os humanos na colorida Jardim.

Até entre as espécies rola uma simpatia quase implantada por essa responsabilidade cidadã jardinense. Contamos cerca de 10 espécies de pássaros habitando uma craubeira gigante, um verdadeiro viveiro o que tem no teto verde desse local onde os gatos vivem. Cantos curtos, longos, aguçados, fortes... penas laranjas, marrons, amarelinhos pequenininhos... Empanturrados, os bichanos nem notam o seu prato principal voando. Tem gato até com azia, de tanto comer da gastronomia humana...

 valdÍvia cOsta

3 comentários:

Marília Barreto disse...

Que bom que há iniciativas como esta, e que pena que ainda há pessoas que abandonam animais na rua. Temos que cuidar dos nossos, e esterelizar quando não quisermos as crias. Há pessoas como uma senhora que faz este trabalho com os muitos gatos que há na UCCG campina grande [uns 50 eu acho]; e também também Edroaldo, que junto com outras pessoas e através de doações mantêm a ONG Amigos dos Animais.

Anderson Ribeiro disse...

Jardim do Seridó é uma dessas cidades que abrigam histórias interessantes e que devem ser contadas para o resto do país.

EXPEDITO GONÇALVES DIAS disse...

Que reflexão!
Deixo um grande abraço, Rosa.
E que 2011 seja de cinema!