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20 de abril de 2011

XÔ CAITITUS DE PALCOS!

JABÁ: Advinda das mais ilegítimas relações empresariais da música e dissiminada como autêntica, a praga também se prolifera pelos palcos. | Flautista de Hamelin: Pense Sobre
 # Você chamaria um político de ditador cultural caso ele determinasse apoiar somente eventos juninos nos quais não houvesse bandas de ''forró estilizado''? Para quem não conhece esse tipo de forró leia texto de José Teles de 2008, "Tem rapariga aí?!".

Para ajudar na resposta: imagine que vivemos numa ditadura sonora de fato, na qual leis são burladas em prol de esquemas que beneficiam poucos e exclui a maioria. Se alguém quiser tomar uma decisão em favor dos menos assistidos, uma forma de brecar o domínio do mais rico sobre o mais pobre parece ser negar o apoio público, destinado ao povo. O que é feito geralmente sem explicação pública.

Na opinião de quem faz arte, se envolve com a cultura de verdade e enxerga esses gordos esquemas, o político que interfere nesses tipos de negócios é louvado. Mas, para quem tem que se sustentar dessa estrutura corrompida e deturpada, esse político é um ditador dos mais ferrenhos. Tudo depende da varanda de onde se observa o fato.

O secretário de Cultura da Paraíba, Chico César, que parece saber muito bem o que faz, prefere aplicar o ''dinheiro público junino'' em bandas de forrós menos industriais. Ele deve saber que o grande obstáculo enfrentado pelo artista independente, que não tem empresário nem gravadora, principalmente no Nordeste, é a falta de divulgação e de distribuição da sua arte em maior escala. Esse problema, nem as leis de incentivo à cultura aborda, que dirá a política, como descreve Estrela Leminsk e Téo Ruiz, no livro Contra-Indústria (2006).

É preciso analisar bem a raiz desse fato para não sermos superficiais ao criticarmos a resolução política sem entendimento de causa, puxando pra si ou para seu esquema as dores da discussão. O início dessas práticas ilegais se dá noutra esfera e não nos palcos juninos.

"A maioria dos meios de comunicação está atrelada a majors (grandes gravadoras como a EMI e Som Livre), restando um espaço desproporcional ou ínfimo para o que é produzido fora desta indústria. Este monopólio é garantido através da prática do jabá nas rádios e TVs principalmente. (...) Jabá é o investimento financeiro ilegal das gravadoras para comprar espaço nessas mídias, que são concessões públicas", explica o Contra-Indústria.

Ou seja, é um esquema internacional viciado há muitos anos. A distribuição das grandes gravadoras depende dele para sobreviver, sobrando um pequeno espaço para grupos independentes nas estantes de poucas lojas no Brasil.

Segundo André Midani, um dos maiores produtores musicais que circula no país, o termo jabá foi configurado como tal no país de 1970 a 1972, quando as rádios passaram a ganhar muito com as majors. Daí para cá, uma música chega a custar de R$ 80 a R$ 100 mil para tocar na rádio brasileira e três vezes mais que isso nas rádios do EUA. Sabe como você fica “gostando” de uma música? O caititu (quem compra o jabá) paga para ela tocar mais de 20 vezes por dia num meio de comunicação. É dessa real e danosa ditadura midiática que surge o ''gosto'' do povão em ouvi-la, através da indução.
MERCADOR: Mesmo com o cerco, alguns ratos gordos escapam. | Ratinho escroto: Toonpool
Esse ''gosto do povo'' é colocado como principal defesa dos que acreditam na ditadura cultural de Chico César. Partindo dos meios aos palcos, o ''gosto popular'' se sobressai como discurso democrático, mas a negociação é a mesma que nas rádios: os maiores cachês para o caititu que investiu mais e que possui várias bandas parecidas.

Como o esquema é grande, envolve imponentes distribuidores de música e divulgações em larga escala, interessados em manter tudo assim, há essa atuação noutros campos ligados às gravadoras, como no palco. Intuitivamente, refletimos: se essa indução é para o consumo e formação de público de um tipo de “música espetáculo”, produzido por meios que são ilegais e desonestos, por que não criar um mecanismo que barre o jabá e os caititus de palco pagos com verba pública? Por que não? Por acaso é obrigado o governo participar caladinho desse sistema alienante e enriquecedor? Ou se impor com outro discurso é proibido?

De volta à reflexão política sugerida no início do texto, que atitude justa se poderia tomar com quem foi discriminado durante muitos anos pela indústria cultural de massas? Já houve total conivência sim no Estado da Paraíba. Alguns políticos da Cultura entraram e saíram e não opinaram sobre nada. O São João de Campina Grande de 2009 deveria ter entrado para o Guiness como local e evento de maior concentração do "forró estilizado".

Os políticos menos “polêmicos’’ viram essas traças comendo as verbas públicas, fizeram vistas grossas à super valorização desse forró ou de qualquer música feita nesses moldes midiáticos, aceitaram caladinhos a exigência de pagar 50% dos cachês muito antes dos shows e concordaram com o silêncio em fazer do artista popular, muitas vezes paupérrimo, um bibelô ou um idiota que precisa tocar em palcos inferiores e receber seu mísero cachê com seis meses de atraso. Tudo em nome do turismo cultural, mas sem respeito algum pela lei e sem ética profissional nenhuma para criticar o Chico.

Cá pra nós, quem sabe de tudo isso, como jornalistas e produtores culturais mais informados, e viu essa atitude política de revide para a cultura como ditatorial, está do lado dos estilizados, esquematizados e forrozeiros cafussus, ganhando algum por trás dos bastidores ou defendendo seu cargo. Compreensível. Qualquer um age assim, ferrenhamente, quando a sobrevivência do status construído está em perigo.

Contudo, abrir um adendo sobre a cultura popular também é interessante, afinal é por ela que o Chico está lutando. O evento junino é folclórico, mas não é mais visto como um arraial na roça, com os matutos se cumprimentando “cuma vai, cumpade?!”. É um evento de negócios antes de qualquer coisa, pois está inserido no turismo de eventos, como indica o apoio do Ministério do Turismo. Mas a proposta precisa se repaginar urgente e em toda a Paraíba.

Nem o turista engole mais Zezé de Camargo e Aviões do Forró com 300 gostosas nuas no palco como atrativo “artístico” num evento. Muitos já saem do Sudeste e outras regiões saturados dessa ditadura massificante do oba-oba, esperançosos por verem um micro trio de forró pé-de-serra. Nessa perspectiva, se você fosse político, entendedor de tudo isso, tomara qual atitude?

É fácil criticar e até satisfatório ou destacável virtualmente ser opositor dessa “ditadura cultural”, mas, antes, seja um excluído por um mês... Sinta o que sente hoje os músicos Benedito do Rojão, Geraldo da Rabeca, o próprio João Gonçalves (um dos precursores do forró “duplo sentido”, outra vertente, mas muito escrachada atualmente), os emboladores, cantadores, violeiros, aboiadores e outros músicos naturais que personificam o universo do período junino no Nordeste. Eles vivem somente na natureza e na memória, nos seus anexos urbano-rurais, distantes mesmo do show business.


#valdívia costa

11 comentários:

Anderson Ribeiro disse...

Há muito se discute o 'gosto' popular, a democracia nos programas de rádio e TV. Até entã, para muitos, uma espécie de 'questão Tostines'. Se vende mais porque é sequinho ou se é sequinho porque vende mais... aqui está um excelênte texto para acabar de vez com essa discussão popularesca. Afinal, ouve-se e vê-se porque massifica. Adorei e vou recomendá-lo para muitos. Tem novidades no artorpedo. Beijos.

toninho borbo disse...

Nega esse texto tá esclarecedor mediante toda a essa indústria corrupta da qual faz parte muita gente de veículos de comunicação. Inclusive, eles gerenciam essa engendrosa máquina atravéz de concessão pública. Isso é vergonhoso e injusto. Chico Cesar tá certo, não tem que financiar mesmo e acabou.

Clístenes disse...

Bom texto.
Finalmente uma atitude corajosa e digna. O Chico César está corretíssimo. Cada coisa no seu lugar e a Cultura (aquela que verdadeiramente forma a alma e a essência de um povo, que faz de nós o que somos) acarinhada como se deve.

xistosa, josé torres disse...

Estou fora de todo o contexto, mas este texto é um grito de alerta e de acusação.
Por cá passa-se o mesmo. Não só na música, como também na escrita.
Os grandes sempre espezinharam os pequenos e vai ser difícil modificar isto.

Uma boa Páscoa, com bons dentes para as amêndoas ou em alternativa um coelho de chocolate que nem sei muito bem qual a sua aparição nesta quadra. Mas questões religiosas estão fora do meu alcance.
Vejo pouco e só muito perto, rsss, rsss, rsss.

Dalmo Oliveira Silva disse...

Beleza Val!

O texto ajuda a refletir sobre o porque da gritaria reacionária e apavorada dos jabazeiros de plantão nas rádios comerciais por causa da tomada de decisão corajosa de Chico Cesar/Ricardo Coutinho.

Margot Félix disse...

Excelente texto, Val. Além de esclarecedor, bem didático. Vou compartilhar.

Fico na torcida que Chico César permaneça firme e forte com esse projeto.

Um abraço!

Margot Félix

De acordo com disse...

Poxa, galera, valeu mesmo pela força à decisão da Cultura paraibana. Se todos tomassem essa decisão em seus Estados, combater o jabá nos grandes meios seria o grande e majestoso salto... parece sonho, mas não é. Só acontece revolução num país quando o povo quer! 0/

Anônimo disse...

Congratulo-me contigo, Valdívia.
repassarei aos amigos,
em defesa da cultura, da verdade.

abraços, Benjamim (UEPB)

Anônimo disse...

as pessoas ainda não perceberam o papel da música na sociedade! ela hj influência mais do que a religião e a política juntas, é a via de formação de opnião mais acessível hj, devemos combater esse tipo de manifestação assim como se combate o tráfico de drogas, A COISA É SÉRIA! parabens pela iniciativa, espero que isso tome proporções maiores!

EuCor Reprime Brasil disse...

pancadaria total. "só sabe mesmo o preço disso quem paga". e quem cobra? (o silêncio não cobra povo), cobre pelo nosso Chico, é mais digno ser que negarmos o que realmente somos. que se fodam esses ordinários das quinquilharias exosrbitantes, como disse; (fodam-se suas 300 gostosas nuas), vá pra suas casas chiques porquê a sensibilidade do povo ainda existe, é bem fácil pro mais forte segurar a peteca, tapar o sol com a peneira, se virar nos trinta, e que cada vez mais todo esse esquema político cultural artístico/elitista venha aproveitar-se de caixões para indigentes.

Wesley Pereira disse...

Obrigado pela referencia ao pense sobre.

Sds,
Wesley.