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8 de novembro de 2010

FESTIVAIS (RESISTENTES) INTERIORANOS

NOVIDADE - público do Interior começa a se formar em festivais da Paraíba, gente que cansou de ouvir "forró de plástico" ou ver cruéis vaquejadas. | imagem 4º Unirock 2010: Val da Costa
VALDÍVIA COSTA

Nos últimos cinco anos, surgiu mais festival de arte no Interior da Paraíba do que vaquejadas, por exemplo. Isso é bom, porque mostra que a época medieval de diversão está passando, e a arte ainda respira, mesmo sem investimento, sem apoio governamental suficiente e, às vezes até, sem muita divulgação. Somam sete os festivais desses lugares, contando com os experientes Festival de Inverno e Nova Consciência de Campina Grande. Esperamos que os mais novos tenham fôlego pra ficar na cena que tem diferenciais.

Estruturas pequenas, poucas apresentações, mas coragem e vontade ultrapassantes de obstáculos. Foi o que vi em agosto do ano passado no 1º Festival de Inverno da Serrinha, na zona da Mata, no Unirock, no último sábado em Umbuzeiro, no Cariri e assim será na próxima quinta-feira, 11, quando começa o 1° WCG – Aberto de Surf de Campina Grande, que vai até a sexta-feira, 12. Sem o mar, a banda de surf music Sex on The Beach faz mais essa manobra radical nas ondas sonoras.

Em Serrinha, as adversidades foram políticas e territoriais. Mas nada que atrapalhasse as apresentações. Os meninos pegaram o apoio das prefeituras das duas cidades que compõem esse nome fictício que é Serrinha, pois ela fica entre Juripiranga-PB e Itambé-PE. Imaginaram a briga? Pois rolou, mesmo os prefeitos das duas se descabelando pra aparecer um mais do que o outro.

Umbuzeiro não apoiou a arte tanto assim. Mas, nem tanta dificuldade impediu o evento. E o engraçado é que a cidade é dividida entre um distrito de PE e o lugar onde nasceu o ex-presidente João Pessoa e o jornalista Assis Chateaubriand. A prefeitura paraibana disponibilizou um ônibus pra levar 50 moradores de Campina Grande pra o evento. Pena que a galera não compareceu pra aproveitar um ótimo passeio turístico. Além dos sons, o evento dá toda uma assessoria em mostrar a intelectual história do lugar.

Tomara que os outros festivais que estão por vir, como o Secas (Sumé), que começa no final do mês, e o Balaio Cultual (Boqueirão), que será em início de dezembro, sejam realizados com a mesma pegada, garra e apoio dos artistas interioranos que sempre comparecem, consolidando a cena cada vez mais, como a Cabruêra e Toninho Borbo. Cada vez menos a gestão pública participa dessas iniciativas. Só resta aos produtores e artistas se virarem com um palco, um som e os sonhos numa região inóspita à cultura.

Nessa fase de cólera dos suldestinos contra os nordestinos, os interioranos do Brasil, reflitamos sobre as saídas que temos. Nós que curtimos cultura, arte e outras coisas "dispensáveis" para os ignorantes nessa região dominada pela baixa-estima. A gente costuma juntar dinheiro (às vezes R$ 250,00), ganhando um salário mínimo, pra ver banda americana em Recife-PE, morando no Sertão paraibano e tendo um centro cultural dos mais elegantes do NE no qual nunca entrou, nem de graça. A gente é gente?

A gente merece mesmo uma salvação ou o massacre nordestino seria mesmo uma saída para o extermínio dos "cabeças chatas, aculturados e ordinários"? Eu acredito nas cabeças diferentes. Vejo sementes plantadas nesse solo infértil, cultivadas com o suor e a crença. Falta diretrizes sérias e bem planejadas para um bem comum e uma distribuição de arte. Mas há pequenas ações. No final, elas podem se unir e formar uma rede de interesses culturais, interligados, funcionando a vapor... a resistência acompanhando o tempo.