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28 de novembro de 2010

VIATURAS ANFÍBIAS

AQUÁTICOS - Policiais chegaram em viatura anfíbia ao Rio de Janeiro, graças a um motorista emprestado da Marinha... | imagem: Fórum de Defesa

VALDÍVIA COSTA

A vida era assim, às vezes, na comunidade. Uma pipa colorida percorria o mesmo céu que helicópteros da Polícia varriam. Crianças tinham que aprender a ler sinais comuns da localidade antes de entender qualquer linguagem. Pela quantidade de tiros e do diálogo das rajadas, vindo de todos os lados, o moleque desceu um morro, num ballet de saltos e desvios bruscos, ao som metrificado de uma R15. Pistolas e revólveres desenham semi-círculos ao vento, pousando, pesados, nas mãos petrificadas dos atiradores de elite.

Era a guerra.

No atalho que descobriu para uma das saídas da gigantesca favela, avistou dois veículos parecidos com tanques de guerra, saindo dos matagais. Ele não sabia que eram viaturas anfíbias, cedidas pela Marinha brasileira pra combater os traficantes. Se escondeu, esperando as duas monstras passar. Uma delas mostrou duas cabeças com capacetes na parte de cima. "Essa coisa deve ter o bucho cheio de polícia", pensava o garoto.

Ficou algumas horas abaixado na moita. Todo mundo em casa estava fora. Morava com a mãe, a tia e três irmãos. Num barraco só. Ele não sentia fome, mas pensava que tinha que ter colocado o feijão no fogo, como a mãe ensinou. E se ele chegasse em casa às doze horas e a mãe estivesse com a cinta, lhe esperando?! O desespero o empurrou a voltar.

Pela trilha, ele passou perto de um dos batalhões que comandava a guerra. Mas só ouviu burburinhos. Ao se aproximar da última moita, na entrada do Complexo, viu, a alguns metros do lado, um tanque muito maior do que os outros. Tinha o nome "Piranha". O moleque estava gelado, pensando quantos homens caberiam naquilo, que era uma viatura anfíbia moderna, usada mais no Haiti, que cabe quase o dobro de homens.

Teve que ficar imóvel, naquele terreno instável, um campo minado de tanques e máquinas mortíferas. Apesar de nem ter completado 12 anos, o moleque sabia viver ali. O silêncio foi quebrado quando uma porta da viatura abriu e dois soldados saram de dentro sorrindo. O tiroteio acuando os moradores, afugentando muitos, amedrontando crianças como aquele moleque gente fina, e a cabine do soldado alegre e sonora.

O garoto ouviu, de dentro da viatura estacionada, uma voz feminina, acompanhada de uma música alegre... "A gente quer viver, mesmo que a vida seja um prejuízo..." Os soldados, descansados, com as armas nas costas, fumando um cigarrinho... "Quem vai tentar agora?" O menino ouviu de um dos fardados. "Bota o 458. Ele se saiu melhor do que todos os 19", orientou um possível 'tenente'.

O garoto aproveitou uma nova rajada de tiros para se arrastar para o lado oposto dali, em direção a outra entrada da favela. Na saída, ouviu que tentavam ligar o 'tanque grandão'. "Tchoinnn..." E nada. Perto de casa já, que não era tão longe dali, ouviu o motor do veículo "Piranha". Parecia um barulho de caminhão com três motores. Rapidamente, sinal de motor morrendo.

"Pô, não sabem nem dirigir!"

5 comentários:

Anônimo disse...

kkkkkkkkk
fumando um cigarro la dentro num da n, so buita msm pra agentar.
kkkkkkkk

Anderson Ribeiro disse...

Nossa! poesia do caos. Muito bom.

Justin disse...

Adoro o modo como vc escreve

toninho disse...

kkkkkkkkkk... muito bom mesmo preta!
Só vc pra fazer nascer flores em ponta de bala.
Xero.

De acordo com disse...

A vida é real, mas é artística. =)