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8 de dezembro de 2010

MERCADO PARAIBANO ROTO

CLAUSURA: Quando a necessidade de trabalhar supera a vontade de ser profissional. | imagem: Perito
"Aqui é tudo ao contrário!". Ressoa a frase da colega Mônica Donato nos quatro cantos do Estado da Paraíba. Surte efeito quase como uma maldição. Mas era mais um consolo por não termos um mercado profissional jornalístico descente ao alcance de novos jornalistas. Sem uma formação de mercado completa, com produção e empreendedorismo, nos perguntamos por que não conseguimos ser destacáveis e respeitados no jornalismo nordestino ou nacional?

Não é novidade afirmar que a Paraíba ainda vive em consequência das reviravoltas do neo-coronelismo. Emprega-se por uma função e exige-se outras três ou quatro com o naturalismo de quem está no caminho certo, rumo ao progresso. O empresário contemporâneo da comunicação neste Estado tem perfil arrojado, como o dono de uma fazenda grande em decadência: muito bicho e comida pra cuidar e pouca gente pra trabalhar. Mas tirar o lucro é necessário, prega o capitalismo.

Num mercado roto, no qual emergentes se sobressaem nos negócios por bem pagar as mídias e profissionais se atolam cada vez mais no mesmo modelo de negócio que os avós se deram bem no século passado, os jornalistas viram rebanhos mal pagos, mal educados e de péssimos profissionais. Outro dia, uma jornalista tuitava sua felicidade por estar num meio de comunicação. Trabalhando tarde da noite e sozinha. Não falou que ganhou hora extra para estar lá. Mas estava 'empregada'.

Ou é muita desorientação trabalhista (um misto de ingenuidade com desinformação da prática jornalística), ou a criatura é apenas irônica e denunciou o abuso de maneira sarcástica. Como sabemos que provocação maior é o pagamento que recebemos como profissionais autônomos por trabalhar assim, desordenadamente para os outros, melhor nem comentar muito.

Lançaremos a campanha: saiba cobrar e trabalhar com jornalismo. Por incrível que pareça, o número de recém-formados trabalhando de maneiras as mais diversas é grande na Paraíba. Sem saberem sequer que teriam um tempo, chamado "carga horária", para executar suas tarefas jornalísticas em qualquer meio... ou que só é empregado quem tem carteira assinada... os novos jornalistas seguem, cumprindo jornadas de 10, 12 ou até 15 horas.

Foi criada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) também para esta profissão. Quem são esses 'profissionais' que desconhecem o direito de ir para casa depois de ficar no local de trabalho? Quem são esses que não sabem sequer Os direitos básicos do trabalhador pela CLT Mesmo com a queda da obrigatoriedade do diploma de jornalista para empregar, elas permanecem lá, para quem é contratado por um meio de comunicação com a carteira de trabalho assinada.

Se a colega não é 'empregada' assim, mas só 'de boca e de promessa', aí era que deveria cobrá-los pela falta de cobertura trabalhista que um freelancer oferece. O que essa cultura do neo-coronel faz com o mercado de trabalho, confundindo o jornalista que não sabe se é autônomo ou empregado? Nivela a área pelo mesmo padrão de condições e de oferta que o de publicidade, que é pior na Paraíba, pois funciona com salários menores, estruturas e funções defasadas. 

Nessa mistura entre Comunicação e Marketing, o mercado jornalístico na Paraíba é tocado com uma carga horária de mais de cinco horas/dia, pagamentos abaixo do piso salarial (com atraso) e o rebaixamento técnico do serviço, antes intelectualizado. Afinal, para que ler Dominique Wolton ou Marx, se a Nova traz a informação do momento?

Seguimos boiando. Horas atracamos em locais de estruturas boas, pessoas ruins, horas é o contrário... Enquanto isso, no mundo dos empresários médio porte do mercado vizinho, algo está entrando na Era Digital, abolindo jornal, criando redes virtuais poderosas, esmagadoras de qualquer verdade já dita ou processada nos meios de comunicação tradicionais. Mas nessa corrida exterior dos mercados de comunicação nem temos cacife nem visão para competir. Desculpem-nos os emergentes.
valdívia costa

3 comentários:

Marília disse...

Parabéns pela coragem de falar, Val. Muita gente boa se sujeita às más condições por ter medo de abrir a boca, e não ter mais sequer o mercado roto para atuar.

Dalmo Oliveira Silva disse...

Isso mesmo Val! Mercado roto vs. profissionais sem perspectiva. Uma equação triste na contemporaneidade do jornalismo tabajara, alimentada ainda mais pelo total descompromisso daqueles que foram eleitos para tentar diminuir o impacto da ganância do baronato da mídia local sobre as condições salariais e trabalhistas dos profissionais de imprensa na PB.

Anderson Ribeiro disse...

É incrível como nós, jornalistas, que deveríamos 'botar a boca no trombone' nos submetemos aos caprichos do mercado e dos patrões em nome do 'estar empregado' seja de que maneira for, mesmo que estaja ferindo nossos pricípios profissionais e humanos.