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14 de janeiro de 2011

REFORMULANDO O BBB


MOLDADO - Junta-se à nova TV, programa enlatado há 11 anos... | imagem: O futuro é risonho
# A estagiária de produção do BBB 20 chegou atrasada para a reunião, mas quis dá o seu recado, o que seria uma "ideia revolucionária para o programa", que, com as facilidades da interatividade na TV digital, estava caindo no desgosto popular.

- Seria assim - começou Marlene - só poderiam participar pessoas com interesse pela política e pela área jurídica. Todos os candidatos aos cargos ou já atuantes, dessas duas áreas, teriam que se submeter a dois meses de convivência vigiada na casa do BBB, que viraria uma vila para comportar mais participantes e simular melhor o jogo social político que vamos mostrar, por R$ 5 milhões em prêmios.

Três diretores se entreolharam, meio que incrédulos, mas Marlene aproveitou para disparar, antes de ser interrompida por algum guardião do formato atual de programa.

- Em um ano teríamos um raio X dessas mentes revolucionárias na arte de persuadir e punir. Como eles tentariam montar ou manter um sistema social complexo como o nosso?

Boninho, que já estava aposentado, mas substituia seu filhão Boninhozinho, assistia a tudo pela super web can de sua sala e interrompeu, já meio aborrecido por estar escutando besteira.

- O "jogo", assim, é sem graça, sem burrice pra gente rir, sem gostosas e gostosos pra gente se masturbar, sem beleza pra gente sonhar, sem fofoca e sem sexo exposto. 

- Mas, sem tudo o que temos hoje, o programa ganharia sim uma função social, preventiva até. O sujeito e suas formas desonestas de agir estariam visíveis pelas milhares de câmeras e por nós, basileiros, tanto quanto as bundas e peitorais famosos que já viraram ídolos instantâneos - defendeu a imediata Marlene, como se tivesse decorado respostas rápidas para todos os possíveis "mas...".

- Eu achei de uma falta de criatividade... - sussurrou um dos diretores para a web can, meio que em particular com Boninho.

- Mas o perigo de matar e morrer por dinheiro vai causar mais audiência do que as bundas! Poderíamos até pegar uns brinquedos parecidos com aquele filme antigo... Jogos Mortais! É, seria algo que deixaria as pessoas perplexas, grudadas o dia todo na TV... Se eles forem honestos, enfadonhos, editamos tudo com animações, novelinhas terroristas, como fazemos... - enfatiza Marlene, tentando tomar as rédias.

Um silêncio de incerteza pairou por segundos a sala...

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O pesquisador francês Dominique Wolton isenta a TV da responsabilidade de cooptar as mentes menos pensantes e redireciona uma crítica simples ao aparato humano de decisões, programas e públicos que compõem este meio. Como se, por trás da tela, cérebros humanos tecnicistamente preparados maquiassem tudo, pois não aparecem, mas estão nas salas climatizadas, nas coxias, nos camarins...

São mentes que atraem mentes com recursos psicológicos, como a repetição de produtos ou até o estímulo ao jogo em campanhas visuais massivas. Máquinas são apenas manipuladas para dar o recado. Esmiuçando, no caso do Brasil teleguiado, é o Boninho quem joga a linha com o BBB no anzol.

A única maneira de acabar com essa abdução midiática é agindo. Troque de canal ou desligue a TV quando começar programas de conteúdos emburrecedores. Ou, simplesmente, leia um livro ou revista.
valdívia costa

4 comentários:

Margot Félix disse...

Excelente texto. O problema é que os assíduos desses programas não sabem que ele emburrece. E lá se vão 10 anos e uma geração de incautos formados pelo BBB. As pessoas sonham entrar ali. É assustador. oO

Gostei do novo layout do blog.

Abraço!

De acordo com disse...

É, Margot, temos que ter força pra conviver com isso na TV brasileira. ;/

Flávio Crispin disse...

excelente texto Val, é cada vez maior o papel destes programas em nosso meio nos fazendo mais burros e menos criticos. Um grande abraço pra vocês.

Fernando Liberato disse...

Muito bom seu texto, eu nunca consegui ingerir o conteúdo ofertado pelo Bial e Boninho, sem que não tivesse uma ressaca moral, nos dias posteriore. Voltarei sempre aqui, para busca referencias de boas leituras.