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19 de maio de 2011

PÁSSAROS ILEGAIS

Feiras de pássaros do Nordeste são sempre ambientes tristes, do ponto de vista de quem está preso. | imagens: Val da Costa
# A severidade com que lidamos com inúmeros pássaros silvestres só para mantê-los como troféus na sala, pendurados, presos em gaiolas, é digna de análise. Qual a lógica de se manter preso um animal que vive voando? Para que arrancar de seu habitat, com dor e isolamento, uma criatura e transformá-lo num símbolo semivivo? Só a raça humana para traçar tanta falta de sentido num único gesto.

Criadores de aves têm verdadeiro apreço em bater no peito e dizer: “comprei um Azulão”, como se isso fosse a coisa mais fantástica da Terra. O pior é quem é da mesma índole invejar esse atroz caçador/criador de pássaros. Na maioria das vezes, esses indivíduos capturam os animais em períodos de nascimento, promovendo verdadeira carnificina avícola dos pais e maior quantidade de espécies presa.

Ao se inspirar na liberdade e na beleza do canto de uma ave, cuidado pra não virar um entusiasta de animais silvestres, como as famosas e vistosas araras vermelhas. Se tomar gosto pela coisa e se mostrar “entrosado” com as fontes que “descolam” cacatuas e papagaios na maior “limpeza”, você pode ser considerado um traficante de aves silvestres, de acordo com o Ibama.
 

Feira de pássaros de Campina Grande-PB: vendedores de pássaros silvestres expõe seus bichos.
Meninos caçadores de Fagundes
É a falta de oportunidade que faz muita gente cometer crimes sem raciocinar direito sobre o ato que vai cometer ou é o prazer em prender, dominar uma vida? Isso é o que está ocorrendo em Fagundes, no Cariri paraibano. Crianças estão caçando os filhotes do pássaro mais conhecido como Bigodinho para ganhar míseros R$ 2 por ave apreendida. Quem denuncia é o ambientalista Aramy Fablício, que sempre está de olho da fauna e na flora da região da Pedra de Santo Antônio.

Sem ser pago para ser observador da natureza e, muitas vezes, herói dos bichos e das plantas, Aramy nota que as crianças e adolescentes da cidade só se ocupam com a escola. “Sem ter muito o que fazer no segundo horário, procuram uma atividade que gere renda, chegando a ser seduzido pelos compradores que vêm de outros Estados e oferecem dinheiro pelos passarinhos”, completa.

Em outro post, Bigodinho Ameaçado, falamos sobre esses negociantes de pássaros e seus descaramentos flagrados em fotos do ambientalista, que muitas vezes chega a brigar com os caçadores e a ser ameaçado.
Mini alçapões são vendidos aos lotes.
Formas de captura
Alçapões miniaturas ou armadilhas mais elaboradas, tipo, um gaiolão escondido pela mata, são métodos medievais de caçar pássaros. Uma prática predatória, mas que vem ganhando reforço da tecnologia. Afinal, os caçadores têm agora à disposição GPS no celular pra não se perder nas matas estranhas. Como muitos têm na captura uma atividade econômica rentável, eles se informam pela internet, nos grupos dos caçadores espalhados pelo Orkut e nos próprios sites especializados em caça.

A comunidade mais frequentada do Orkut, com mais de 200 membros, é Eu adoro Pássaros Silvestre, que informa ser para a criação legalizada pelo Ibama. É outra opção para quem quer criar animais silvestres, apresentando um ambiente ecologicamente correto. Mas pássaro sempre vai pra uma gaiola, grande ou pequena, se afastando de seu modo de vida natural.

Alguns pássaros ficam no sol, a manhã inteira;
outros, misteriosos, chegam cobertos.
Duas “Feiras de Pássaros”
A venda de pássaros raros é atividade inserida em muitas “feiras de trocas” espalhadas pelas cidades do Nordeste. Geralmente são aglomerados de negociantes ambulantes, comumente em linhas de trem, trocando ou vendendo produtos de procedência duvidosa, sem nota fiscal e com o diferencial do precinho. Campina Grande possui duas dessas feiras bem conhecidas, e uma terceira em franca expansão.

Os comerciantes de passarinhos silvestres, além dos comuns liberados pra venda pelo Ibama, estão na Feira Central, na Rua Manoel Pereira de Araújo e próximo ao Açude Velho. Essas imagens foram feitas na Manoel Pereira, que só aumenta no tamanho e na diversidade de pássaros, como mostram as fotos. São cerca de 100 metros em extensão por uma rua de largura ocupada com todo tipo de “troço” pra vender.

Porém, o comércio que mais emerge com boas ofertas e muito potencial é o de aves. São diferentes e sofisticados tipos de gaiolas, pássaros bem ou mal tratados, homens, em sua maioria, e crianças, sempre passantes, negociando as aves. Muitas delas chegam em gaiolas cobertas com panos, possivelmente as espécies mais chamativas.

Alguns passarinhos ficam presos em minúsculos alçapões
(tem um vermelhinho dentro desse à esquerda)
Ibama
Maria Coutinho, funcionária do Ibama local, disse que sempre é feita a fiscalização nessas feiras e constantemente são apreendidas as aves e os vendedores. Mas, no máximo, o que acontece aos criminosos das asas? Assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) e “tchau, papai”!

A situação do Ibama local também não é das melhores, segundo Maria. “Só estamos com dois funcionários, a única viatura foi pra o conserto e até agora ainda não voltou”, relata. Ainda há os inibidores que toda polícia enfrenta. Na ambiental, alguns caçadores/vendedores apreendidos querem reagir e o policial tem que se impor, levar o caso ate a Polícia Civil ou solicitar ajuda da Militar, Federal e até do FBI, em caso de tráfico internacional de animais silvestres em grande escala.
O azulão é o pássaro silvestre mais comum nessa época
(um na gaiola da moto e outro na mão do vendedor)

Denunciei a feira da minha rua. Não sei se eles virão fiscalizar. Em cinco anos que moro aqui, nunca vi ou ouvi alguém falar nessa fiscalização. Por isso nem vou esperar, daí surgiu esse post. Ah, Maria não soube dar muitas informações, transferiu o direito de resposta à superintendência do Ibama Paraíba. Se você está incomodado também, ligue e denuncie maus tratos em animais, desmatamento e outros! (83) 3244-3464

#valdíviacosta

2 comentários:

Toninho Borbo disse...

O q ocorre aqui é mesmo um absurdo.
Valeu nega!

Aramy Fablício disse...

Oi VAL, PARABÈNS por esta grande matéria que você fez, fico impressionado com teu profisionalismo, a forma que você expressa as coisas, às vezes simples aos olhos da sociedade, mas complexa por quem ver com outra ótica de ver as coisas como elas são. VAL, tuas máterias são crônicas, são obra de arte mesmo, sem o lado feio desta vergonha que não é um problema crônico apenas aqui na PARAÍBA, mas em todo Brasil. nas cidaes como Rio e São Paulo é comum os estupidos desfilarem com uma gaiola suspença pela mão e se mostrando para outros idiotas que seu animal canta mais que do outro ou vice versa. E o pior é que na maioria não são os animais da região sudeste não, são as aves de nossa região arida do nordeste. estive no Rio e São Paulo e ficava irritado com nossa fauna aprisionada, acorrentada, mas o mais ridiculo é que a policia não faz nada. estive ligando para esta senhora que trabalha no IBAMA e outras pessoas de Fagundes, e a resposta parece gravada, "falta viatura, guardas florestais..." (...) Vou te enviar o lado bonito da natureza é que de janeiro para cá já monitorei 4 ninhos com um filhotinho cada ninho se é que posso chamar aquilo de ninho da ave PAI DA LUA, o problema de Fagundes é apenas na região sul divisa com Aroeiras e Itatuba, onde existe o berçario da ave bigodinho e os traficantes vem de Pernambuco, João Pessoa, Campina Grande e outras cidades. (...) Mais uma vez PARABÈNS pela matéria publicada e pela forma que você expressa. Tudo de bom VAL e que o DEUS da natureza nos proteja.