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31 de agosto de 2010

VENDADOS


INVISÍVEL - O homem encontra-se com o "ódio mortal" e dá-lhe atenção... | Gustav Klimt: A mulher moderna na sala e na cozinha

VALDÍVIA COSTA

Tem gente que é inspiradora do ódio pelo simples fato de não compreender a vida, os outros, além de si e de seu universo particular. Sente-se muita raiva de quem pensa ou age diferente de nós, seres absolutamente corretos. Nós cinco nunca tingimos a casa de rosa, mas foi sugestão recente do pedreiro, que acabou de "sair do armário". Disse que era a última moda no mundo dos mans. Um de nós discordou e a maioria venceu, mas odiamos.

Perder, se perceber enganado, se descobrir preconceituoso, se notar racista, gaguejar, tomar cerveja fervendo... tudo isso é muito ruim, mas quando se passa por qualquer situação dessas sem notar nada, algo vai errado. Como seres dotados de raciocínio, precisamos pensar, se possível 24 horas por dia, pra poder competir no trabalho, ser feliz em casa etc. Quando passamos por isso tudo e nem sopramos pra fora o desgosto, mumificamos nosso sentimento bolorento.

É bom andar de olhos e ouvidos abertos. Rencomedável até, seria, partirmos pra uma campanha, em pleno litoral, para que as pessoas abram mais suas visões e suas escutas. Sinais extraterrenos sempre alcançam-nos quando exercitamos mais esses canais do que a fala, aquele tilintar constante que tanto nos esmorece. Falar é desnecessário quando pouco vemos. É chato ouvir. Ver mais adiante é remédio pra quem muito profere palavras.

Até pensamos em matar nosso companheiro que não quis ser como somos. Chegamos ao ponto de combinar sua morte, como a de um covarde, propositalmente, ao assistir ao assassinato do pai sem dizer ou fazer nada. Mas desistimos. Afinal, entendemos que a velhice das ideias chega mais rápido e com mais poder em alguns seres, desprovidos de células que se unam em prol do entendimento de uma simples frase.

28 de agosto de 2010

POSSE


EQUÍVOCO - Quando a pessoa confunde profissionalismo com mutretismo e se dá bem na vida. | imagem: Pinup of heart

VALDÍVIA COSTA

Ser competente numa profissão não implica só em aparência ou no marketing pessoal, hoje apelidado de "blefe pessoal". Profissionais de diversas áreas, antes de serem autônomos ou empreendedores, são empregados. Mas, com a cabeça afetada pelo Ego, mesmo na condição reles de peão, eles se apossam das instituições e jogam como experts que acumularam bens e um vazio asfixiante no cérebro.

Quem muito se comporta assim são os profissionais de longa trajetória nas empresas, concursados ou não. Devido ao tempo "de casa" se acham donos dos móveis, dos eletrônicos, das licitações, das contrações e de todas as relações de negócios que trafegam no ambiente onde eles costumam trabalhar. Alguns até mandam no cliente!

De tão envolvidos com tal tarefa, a de se apossar do privado alheio, muitos desses perdem a noção total do real, agindo, sozinhos ou "acompanhados", com estratégias sujas de auto-promoção. Esse tipo de comportamento, muitas vezes, sai da mesa de uma pessoa que nem cargo na hierarquia maior da empresa possui. Se achando o poder em pessoa, esse indivíduo aparenta isso a outros menos informados, que sempre o reverenciam.

Coitados. Só a ilusão individual de quem age assim funciona. Por trás, as palavras correm, sobem pelas paredes, escalam muros, atravessam ruas, invadem as concorrentes nas horas vagas e disseminam a verdade no mercado de trabalho. Sempre é bom recorrer à humildade em qualquer posição que se ocupa. Mas os possessivos e invejosos faltaram a esta disciplina Humana e o mercado não exige comedimento como critério de seleção profissional.

Quem é bom em algum trabalho não precisa forçar a barra nem fazer pose de dono porque logo o talento aparece, transforma a pessoa num ser independente de vícios corporativos e celebriza quem é brilhante. Sem esforço algum, muitos se firmaram na história da humanidade. Os mais despreocupados com o "blefe pessoal" são os mais comprometidos com a intelectualidade, como os filósofos e pensadores que se detinham nos estudos apenas.

Existe também o oposto, é verdade. Verdadeiros gênios que são abafados, silenciados ou ignorados neste mar Cáspio que é uma instituição da qual precisamos para trabalhar, pelo menos até que se possa ser empreendedor do seu próprio negócio. Mas, mesmo com essa perseguição toda e cercado dessas más posturas pelos lados, o bom profissional sobrevive, nem que seja anonimamente. Ninguém o matará pela falta dessa "esperteza".

imagem: Casa do galo
Nós compreendemos o profissional taxado de incompetente, aquele que vai longe e obtém sucesso com seus conchavos. É uma pessoa de uma "casa" só, sem iniciativa, sem força nas perninhas para dar os primeiros passos sem a ajuda de mãos fortes corporativas lhe sustentando. Somos solidários com eles pela extrema ignorância, impenetrável redoma que impede a expansão da suas mentes em busca da liberdade!

Afinal, quando ele consegue se livrar desse mundo imaginário privado, o mercado todo já o conhece, além de o rejeitar pelos seus métodos. Para esse sujeito, o que resta é recorrer à Justiça e tentar recuperar o direito que ele nunca teve, o de trabalhador, de fato.

Como tudo no Brasil atualmente é falsidade e corrupção, dependendo das relações desse "profissional", logo ele ganha daquela empresa o que mais escondeu, retirou e reteve dela: o dinheiro para ser livre financeiramente através de uma caderneta de poupança. Realmente, concordo com o jargão "o mundo é dos mais espertos"! Mas, duvido dessa astúcia, reveladora da farsa que somos.

Para todos, esse indivíduo mutreteiro ganhou uma batalha corporativa. Para si, ele foi só mais um pobre sobrevivente, cansado de tanto armar ilusões, que agora dorme com suas falcatruas, rebeldes, gritando dentro de si quem de fato ele é, um ser desprovido de ideia própria, copiador das mazelas que aprosionam e oprimem o humano.

25 de agosto de 2010

FALANDO NISSO...


LÍNGUA - Por causa dela, muita gente perde o rebolado, além de cair em cada fria... | imagem: Mandrey

VALDÍVIA COSTA

Falar mal faz mal para quem fala, e não só para quem é alvo da fala. O mal hábito percorre os séculos, se acentuando onde as pessoas permitirem, chegando a instâncias inimagináveis, fazendo zilhões de vítimas que, muitas vezes, nem sentem tal menosprezo. Hoje, todo mundo fala de todo mundo. Mais cedo ou mais tarde, você também será vítima! Se não já foi carrasco...

Visualize, imagine-se falando muito de alguém. A sensação de vingança, ou de ódio mesmo, percorre o corpo rapidamente, fanzendo-nos soltar palavras, sem pensamento algum, só palavras. E, nessa metralhadora de azedume, traspassam valores os projéteis que falam mal do chefe, do subordinado, do colega, do vizinho, do concorrente, do fornecedor...

O vício nem é notado, mas existe em cada um de nós, línguas soltas, frívolas, doidas pelo desaguar da conversa. Você já foi no lugar do cafezinho? O que estão falando? Já viu o que conversam na hora do almoço? E quando chegam em casa, essas pessoas falam o que? Mal dos outros! A língua é feroz. Quando menos se espera, ela lambe desaforos e descontentamentos. Mas não precisa matá-la, ela saberá calar, se o cérebro assim guiar.

Pessoas de sucesso não precisam falar mal de ninguém para vencer. A segurança de si próprio, muitas vezes, impede de cometermos esse ato, comede alguns pensamentos, cria um freio de mão eficiente. O limite é sempre imposto pelos mais velhos: quando não se pode falar bem de alguém, não se fala nada.

Vejam o que é um "baile", um "rela", um "toco" bem dado (e aprendam) como um comentário faz toda a diferença num post:

Falar mal dos outros
Sinto pena de você, meu caro. A vida é bem melhor com as diferenças. Graças a elas, temos pessoas de todos os tipos, e desta diversidade vem a grande riqueza e a grande maravilha da vida. Já pensou se fossem todos pasteurizados e certinhos como você? Que horror! Ainda bem que existem pessoas que por necessidade trafegam de pickups. Ainda bem que existem pessoas preocupadas em manter o carro limpo. Ainda bem que existem professores de cursinho engraçadinhos, que através de suas graças fizeram com que eu me lembrasse de uma resposta importante na hora da prova. Ainda bem que existem e existiram e ainda existirão, que na sua classificação serão vulgares, mas que talvez sejam muito mais felizes em sua vulgaridade, do que você que passa o tempo a observar e lamentar a vulgaridade dos outros, sabe-se lá com que sórdido propósito.

[Sobre "Sinais de Vulgaridade"]

23 de agosto de 2010

QUE POLÍTICA?


INVERSÃO: O Brasil nos empurra para uma politicagem sem fim e o povo pensa que faz parte do processo... | imagem: Fúria Vespertina

VALDÍVIA COSTA

Somos tão medíocres que esquecemos quem elegemos para governar os estados e o país. Nem recorremos ao direito de cobrar, ao dever de fiscalizar quem a gente elegeu ou a simples vontade de participar do processo político de fato que construimos. Mais um ano eleitoral chegou, novamente aquela sensação de falta total nos invade. Principalmente quando assistimos a propaganda eleitoral gratuita.

A politicagem (tão confundida com o conceito pregado por Aristóteles, por exemplo) não nos seduz, por isso não vou falar tanto dela. Partimos para um post educomunicativo, discorrendo um pouco sobre ser parte de uma "polis", como os gregos chamavam as cidades-estado. Nos regimes democráticos, a ciência política é a atividade dos cidadãos que se ocupam dos assuntos públicos com seu voto ou com sua militância. Hoje, usamos a internet para "participar", com redes sociais e alcance das "promessas" dos candidatos.

Como "polis" loucas, nem encontramos força num brado plebeu nem na veracidade de um discurso engomado dos que se dizem políticos. Por isso esse desinteresse de alguns em votar. Aí criam armadilhas pra gente se sentir culpado, não querer votar nulo etc. Pra que tudo permaneça como está e o nível da politicagem cresça até dominar geral, ocupar lugar do sentido real da política e excluir mais e com maior intesidade.

Mas por que temos que saber distinguir política de politicagem? Pra não contribuir com falcatruas. Política é um texto do filósofo grego Aristóteles de Estagira. É composto por oito livros e não existem dúvidas acerca da autenticidade da obra. Acredita-se que as reflexões aristotélicas sobre a política originam-se da época em que ele era preceptor de Alexandre, o Grande.

Na filosofia aristotélica, a política é a ciência que tem por objeto a felicidade humana. Ele bolou um esqueminha, para cientifizar mais sua definição, que se divide em: ética (que se preocupa com a felicidade individual do homem na pólis) e na política propriamente dita (que se preocupa com a felicidade coletiva da pólis).

Investigar as formas de governo e as instituições capazes de assegurar uma vida feliz ao cidadão. Isso era o que deveríamos fazer, atuar. Mas a gente vive assistindo a tudo, pela internet ou pela TV, e só espera. Por ser esse mecanismo de união entre gestores e o povo para se governar territórios, a política situa-se no âmbito das ciências práticas, ou seja, as ciências que buscam o conhecimento como meio para ação.

Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política (Aristóteles; Pol., 1252a).

Todo discurso é bonito, ainda mais vindo de Aristóteles! Só não se sabe por que tudo foi caminhando para o outro lado, para uma propriedade privada, para uma formação de quadrilha... Ou sabemos? Será que não contribuimos com essa inversão de sentido do termo ao nem percebermos em quem estamos vontado? Despertar pra esta questão inicial é necessário a todo o processo que temos que refazer para nivelar a felicidade humana.

O nó é cego e duro quando entramos nestas vias, nas quais nos deparamos conosco dentro do processo e não fora, como costumamos nos manter após votar por votar. Contribuimos sim. E precisamos demais da comunicação para nos posicionarmos melhor na vida, nesse processo coletivo e sério que é dar poder e estatus a um representante legal para mexer no patrimônio público, aprovar leis etc.

Segundo o artista multimídia Pedro Osmar, "existem poucos candidatos em condições de encarar de frente o desafio de trabalhar pela ética e dignidade na política! Cabe ao povo organizado cobrar posturas e compromissos de todos os eleitos!". Como artista consciente, Pedro elencou 12 exigências que um plano de governo popular e democrático deve ter. Leiam e pensemos em votar sério e responsavelmente!

22 de agosto de 2010

BIGODES SE ACARICIAM


OUT - Gordinhos, carecas e grisalhos. Longe do hype e da badalação do mundo gay, homossexuais de 30 a 70 anos se encontram semanalmente numa festa no centro de São Paulo. Filhos de uma época em que a discriminação e a repressão eram maiores do que são hoje, eles deixam de lado o culto ao corpo e à juventude, buscam relações estáveis, não têm iPod nem dão muita bola para a São Paulo Fashion Week. | Imagem: Homofobia já era

Bigodes, bigodes por toda parte. Na pista, a meia-luz, os bigodes dançam e flertam, pedem coquetéis, um gim-tônica, flutuam sobre os copos de hi-fi, puxam papo. Castanhos, brancos, tingidos. Bem aparados, molhados de cerveja, cantam Maria Bethânia, Roberto Carlos. Vibram quando da cabine do DJ saltam os primeiros naipes da orquestra de Ray Conniff.

Alguns, tímidos, escondem o sorriso; outros, os mais atirados, se aproximam, falam no ouvido. A música fica lenta e os bigodes, bem juntinhos, deslizam pelo baile. A festa começou. O de bigode prateado é o Ivan Santos. Contador, tem 50 anos e freqüenta o ABC Bailão há oito. Há quatro anos, ele organiza no Bailão uma noite beneficente que arrecada alimentos para uma creche.

Ivan já foi casado e tem duas netas; pediu o divórcio porque não queria manter uma vida dupla. É homossexual assumido desde os 25 anos. No momento, Ivan está solteiro. Procura alguém de 25 a 35 anos para um relacionamento sério. “Quero conhecer uma pessoa pra ficar junto, sair pra jantar, bater papo”, explica Ivan. “Um homem sincero, que tenha bom caráter e dance forró direitinho, de preferência de rosto colado.”

Ivan (que no Orkut participa de comunidades como “Procuro Namoro Sério entre Gay”, “Timão Bicampeão da Parada Gay” e “Dormir de Conchinha”) namorou cinco anos um companheiro que conheceu no bailão. “É um ótimo lugar para fazer amigos”, diz.

O ABC Bailão, no centro de São Paulo, existe há mais de dez anos. Abre de quinta a domingo e recebe cerca de 450 pessoas por noite. Amarildo Donizete, 44 anos, bigode preto com fios grisalhos, é um dos dois sócios. Fala que o sucesso da casa se deve ao clima família.

“Aqui não temos dark room, é proibido ficar sem camisa e os seguranças fazem rondas periódicas e advertem os mais empolgados para evitarem uma pegação excessiva”, conta. Michês, travestis e drag queens não são habitués do local, e na pista, no lugar dos costumeiros go-go boys, colunas gregas e uma samambaia.

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19 de agosto de 2010

CORDAS


AMARRAS - Jamais o violão o deixará ir embora... | Pablo Picasso: Juliana Delfes

Se a vida fosse pautada em acordes cheios, pomposos, fluidos como os de um violão, a música seria o alvo da fé de muita gente. Gostaria de poder usar todas as cordas. Afinar mais meus tons, misturá-los a bits, quem sabe...


A melhor parceria que um violão pode achar é a de quem ama música, de quem canta com tudo o que aborrece, transformando a realidade em passagem agradável e envolvente.


Encontrar-se num violão, saber o que dele tirar, como história que começa boa e termina melhor ainda, é engenhoso. Parece que há uma identificação natural entre ser e instrumento, um misturar quase óbvio, quase grudento...

18 de agosto de 2010

ILHAS DE LIXO


CATADORES - Programa que ajuda o chinês a ganhar dinheiro desmanchando esse arquipélago de dejetos; os catadores andam pelas ilhas de lixo catando os reciclados. | imagem: PopSci

É inegável que o progresso dos países industrias gera lixo, mas nesse caso o lixo é tanto que está atrapalhando o progresso de um país industrializado. O país é a China e as imensas ilhas de lixo que se formaram ao longo do curso do Rio Yang-Tsé (conhecido com Rio Azul) ameaçam a segurança da Hidrelétrica de Três Gargantas.

Inaugurada em 2006, a gigantesca usina roubou da Itaipu Binacional o título de maior do mundo, em termos de potência momentânea máxima (a média de energia anual produzida no Brasil é maior). Mas toda essa imponência está sendo colocada em risco por um problema bem conhecido do Brasil também: ao longo dos anos, foi lançado tanto lixo no rio Yang-Tsé, que os dejetos se uniram em gigantescas ilhas. É possível caminhar sobre elas.

Diariamente, três mil toneladas de lixo são despejadas no rio, segundo o jornal China Daily, e todo esse material pode facilmente bloquear alguma eclusa da Usina de Três Gargantas e causar uma catástrofe. Nas últimas semanas, a situação se agravou e ficou alarmante devido à época de chuvas.

Em alguns pontos próximos à margem do rio, a chuva torrencial arrastou outros dejetos como galhos de árvore, pedras e grandes quantidades de lixo que estavam em terra firme para dentro do rio. Mesmo sem isso, o custo que os chineses tinham anualmente para manter a limpeza (ou a falta dela) em um nível aceitável era 1,5 milhões de dólares (que equivalem atualmente a cerca de 2,64 milhões de reais). Mais de 150 milhões de pessoas (cerca de 10% da população chinesa) vivem em áreas próximas à barragem, e na maioria das cidades não há coleta de lixo adequada.

Os dejetos abrangem uma área de cerca de 540 mil metros quadrados e têm cerca de dois metros de espessura. Em alguns pontos, a camada é tão densa que as pessoas podem caminhar sobre ela, e caminham. Milhões de trabalhadores em pequenas barcas tiram o seu sustendo das ilhas flutuantes, coletando matérias como plástico, vidro e isopor, para vendê-los a preços miseráveis.

A direção da Usina decidiu por si própria começar a recolher o lixo, ou parte dele. Por ano, são retirados entre 5 milhões e 7 milhões de metros cúbicos. No ano passado,essa quantia foi de 5,6 milhões, que teriam chegado à barragem se não fossem recolhidos, segundo um relatório apresentado ao China Daily. Esse projeto de retirada de dejetos custou 37,5 milhões de dólares (algo em torno de 64 milhões de reais) aos cofres da Usina no ano passado. Ao ser construída, a Três Gargantas forçou a mudança de endereço de 1,3 milhões de chineses, devido às áreas inundadas.

E os malefícios desse lixo, obviamente, não se concentram apenas no risco de entupimento da barragem. O Yang-Tsé está seriamente contaminado e continua servindo para o consumo de imensas populações que não têm acesso a tratamento de água. [PopSci]

17 de agosto de 2010

CAMPINA - GRANDE É A SUA FEIRA!


VERDURAS - A feirante está sentada no chão asfáltico desde 2004, ano da foto, e se pergunta se haverá ainda esta tal de "reforma". | imagens: Valmir Gama | Texto: Valdívia Costa 
Falar da Feira de Campina Grande nunca é demais. Até porque é obrigação falarmos dela, primeiramente pela sua importância econômica; depois pela sua abrangência territorial, é a segunda maior do Nordeste com moldes tradicionais de comercializar, reunir feirantes e compradores num ambiente plural e diverso; e pela sua história cultural, rica, transbordante de personagens, lugares e estéticas das mais loucas e diversas.

BALAIEIRO - Figura praticamente em extinção na Feira Central, o balaieiro carrega a feira de verduras e frutas na cabeça, nesse balaio gigante que ele desfila a mostrar pelas ruas centrais da Feira. Hoje, o mototaxista ou até mesmo o taxista o substitui com mais precisão, mas ele dá toda a característica original de livre comércio, onde todos escolhem uma modalidade e negociam serviços, produtos etc.

BUSINESS - O livre trânsito de produtos com os quais os feirantes lidam diariamente é intenso e cheio de surpresas. Este comerciante, por exemplo, mistura doces, rapaduras, com alho e alguns CDs para quem não larga o vício da música. O importante para ele é negociar, vender, lucrar, essas coisas...


CRIATIVO - O bom humor, presente na luta diária dos feirantes, também é peça primeira de marketing que eles usam para atrair o cliente. Muitas vezes uma "arrumação" como esta aí chama a atenção e o diferencia de outros milhares que estão vendendo o mesmo que ele. A engenhoca que proporciona sombra só se sustenta pelo saco de cebolas. Talvez uma metáfora da vida do vendedor...

SOUNDS - Não há quem não resita às news "musicais" das bancas de vinil da Feira. Esse aí, literalmente, pendurou as chuteiras (detalhe acima dele), mas continua abrindo a banca de discos pra quem curte brega, música latina e a fossa. É deprê e retrô demais!

FLORES - Do Brejo, do Curimataú, da Borborema... as flores da Feira enchem de perfume e cor as passarelas onde elas estão expostas diariamente. Abelhas de todos os lugares vêm provar no nectar delas. A feira-enfeite da Feira é a de flores, lógico. Muitos são os usos das flores, ensinam as agricultoras vendedoras. Elas vendem sementes pra quem gosta do trato com a terra.

MERCADO - Cercado por imensos armazéns do início do século passado, o mercado central é o coração da Feira, onde, a pouco tempo, acontecia o Dia do Rojão com forró pé-de-serra e viola pra todo mundo ouvir. É dentro dele que está o mercado de carnes.

FRUTAS - As mais doces, coloridas e saborosas frutas estão por todo lugar na grande feira de Campina Grande. Ao redor do mercado central, pelas ruas principais, pela feira de troca... frutas passam em gigantescos balaios que entrecortam a cidade... Uma delícia ambulante!

Para concluir essa ode, cito a seridoense Lourdes Ramalho, que escreveu uma peça, A Feira, na qual há uma poesia que resume esse complexo das artes de fazer (M. Foucault).

A Feira - Lourdes Ramalho
Serra acima está Campina
Grande é a sua feira
Tem gente de toda classe
da primeira a derradeira.

Tem gente besta e sabida
analfabeto e doutor
Suspirando ombro a ombro
segundo as leis do Senhor.

Uns traz um fardo na cabeça
no balaio, no caçoá
Trouxa, embrulho, saco, cesta
tudo serve é só pegar.

Vem o caminhão roncando
carroceria entupida
De gente que compra e vende
que sofre, mas ama a vida.

Se o pobre traz esperança
escondida na cangalha
Traz o malandro a peixeira
onde a morte se agasalha.

De toda parte chegando
honra e desonra eles têm
Se uns vem pra ser enganado
os que engana também vem.

Noite se faz madrugada
manhã, tarde, anoitecer
Na feira 
riso - que é vida
gemido - que é morrer.

16 de agosto de 2010

AMARGURA


DESABAFO: O que uma mesa velha não tem para dizer sobre a vida? Muitas são as histórias acompanhadas, parte amarguradas em seu estado inanimado. | imagem: Pequena Vendetta


VALDÍVIA COSTA

Gostaria de entender as pessoas, mas, como mesa, não consigo. Fico a vida inteira parada, suportando seus costumes. Cotoveladas que se arrastam pra frante, idêntico às cadeiras velhas que me acompanham silenciadas pelas ancas leves ou pesadas dos senhores nossos donos. Procuro entender meu ódio dos lamentadores da vida fácil... Eles não sabem o que é ser mesa!

Durmo sozinha na cozinha. Quando as luzes se apagam, chegam as reflexões e a insônia. Tudo porque eu não sou humana! Nem quero! Mas, às vezes, eles impõem isso a uma mesa. Quando levo socos de raiva de alguém manifestado da cólera por outro que não sou eu, fico irada! Ah, se eu pudesse mordê-los!

Se bem que, como mesa, não sinto dor. Só sinto raiva e solidão esporadicamente. Já pertenci a matriarca dessa família, mulher abandonada e amargurada, com quem aprendi a desgostar das pessoas e das coisas. Se tivesse boca, ela viveria vincada pra baixo.

A raiva me invadiu um dia quando o gato velho dessa senhora me arranhou uma perna. Sou trabalhada na madeira de lei! Escura e firme, centenária... qualquer arranhão acaba a minha reputação!

Mas o gato teve o que merecia. Acabou morto atropelado. Não fui eu! Mas me senti vingada. Apesar da vida de uma mesa ser longa, dependo do zelo alheio para continuar me apresentando aos séculos que estão por vir. Quanto tempo eu duro? Depende. Como tudo nessa vida terrena, se o humano deixar, eu existo quase uma eternidade...

14 de agosto de 2010

BATE TAMBOR, SOPRA METAL


PROVAR - cliquem nos links que sai som. | imagem: Gabriel Machado

VALDÍVIA COSTA

Bateu um tambor, eu estou dentro. Dançando, sentindo o ritmo. Catando os sons dentro do som. Identificando os instrumentos, os elementos. Viajo nos arranjos, na voz, na letra. Consistente, porém ausente, às vezes a letra está somente na completude da música, em lugar nenhum... mas há um desenho imaginário da canção, que percorre, solto, nossa mente. É a melodia costurando e balançando tudo. Muitas vezes, é música, mas outras é só ruído o que compõe a sonoridade.

O bom de ouvir é o ânimo que este sentido proporciona. Isso até o povão sabe identificar quando escuta uma “música” depreciativa (mesmo no engano). Muitas vezes só sentimos um frívolo ímpeto de se envolver com ritmos estranhos. Mas é só rebeldia sem causa. Quanto mais se ouve, mais se tem a certeza de que falta mais numa sonoridade para ela ser música. Há um filtro do que merece ser repetido dentro do meu apertado tempo.

Fica difícil guiar o gosto, pois agrada tudo o que é feito com minúcias. O que tem zelo sonoro, o que tem acabamento artístico, diferenciado de algo que todos entendem. Pois somos tantos produzindo sons que o Brasil exporta o produto. E, muitas vezes, o que é daqui não toca no país, nem no continente. Por isso procuro ser uma farejadora de hoje, que acha relíquias de agradar ouvidos, diariamente.

imagem: Apê da Mix

Sopra um agudo programado, como aquele naipe de metais em Across the Atlantic (The Budos Band)... Escuto-o quando a situação pede uma atitude de silêncio. Foi essa ligação aos sons que me livrou de uma depressão por trabalhar com o que eu considero desgastante. E tome Tommy (Guerrero)! Foi a medida homeopática que ingeri no trabalho. O intuito repetitivo de Tiny, repetidas vezes, me desintoxicou das mazelas e opressões.

Mas essas queixas urbanas e reviravoltas poéticas são características dos brasileiros. Identifico-me com eles. O estilo livre, misturado, que acentua nossas matrizes africanas unidas com o improviso do jazz ou do soul americanos. Sintetizamos na música negra sem menosprezarmos os ritmos. Não nasceu aqui a world music, mas é no Brasil que ela ganha adornos nordestinos, sulistas e amazonenses.

E esse resultado que nos define também como artistas de ponta, que trafegam em todos os continentes, mostrando criatividade e estilo, é o que nos empolga, nos faz balançar a cabeça com o jeito brasileiro de musicar a vida. Tive esses lampejos sobre música ouvindo Toninho Borbo, Jam da Silva, Lula Queiroga, Mônica Feijó e tantos outros que me fizeram batucar na mesa do computador.

Seria eu uma bajuladora? Creio que sim. Uma sem vergonha de falar sobre o que ouço! Afinal, "a música é a revelação superior a toda sabedoria e filosofia", como bem disse Beethoven. E quem a ama, sempre a verá em tudo, como Arthur Schopenhauer, que a via petrificada na arquitetura.

12 de agosto de 2010

ABSTENÇÃO JORNALÍSTICA


MOTIVOS - Às vezes, a gente não vota porque o tempo não ajuda, a fila não anda e muito menos a vida... | imagem: 2 dedos de prosa e poesia

DALMO OLIVEIRA*

As eleições para a diretoria e conselho nacional de ética da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), ocorridas na semana passada, revelaram um dado, no mínimo, inquietante: cresceu o índice de abstenção entre os jornalistas aptos ao voto.

Na eleição passada, em 2007, estavam aptos a votar 14.489 jornalistas, dos quais só foram às urnas, efetivamente, 5.429. Este ano, apenas 11.305 estavam aptos ao voto (ou seja, em dia com as tesourarias dos 29 sindicatos federados). Significa dizer que mais de 3 mil jornalistas se puseram inadimplentes ou se desfiliaram dos sindicatos nos últimos três anos, num Brasil onde não se exige mais diploma superior para o exercício desta profissão – o que dizer do ingresso em sindicatos.

Aqui na Paraíba, essa constatação é reforçada já que, em 2007, o número total de votantes aptos era de 204, mas agora caiu para 143, dos quais 133 puseram efetivamente a cédula na urna, pelas informações da comissão eleitoral, tendo à frente o próprio presidente do sindicato local.

No município do Rio de Janeiro, segundo maior colégio eleitoral do país da nossa categoria, em 2007 havia 1.989 jornalistas aptos ao voto; este ano, apenas 625. Em Minas Gerais, onde 1.137 jornalistas estavam aptos a votar na eleição passada, votariam agora somente 437, dos quais cerca de uma centena foi realmente às urnas.

O estado de São Paulo teve um singelo acréscimo no número de pessoas aptas ao voto, provavelmente em decorrência de novos filiados ao sindicato. Em 2007, eram 3.039 com direito ao voto, dos quais apenas 678 foram efetivamente às urnas. Este ano, eram 3.182 com condições de votar, sendo que deste contingente apenas 699 foram de fato às urnas.

AVERSÃO - Mas, voltando ao quadro paraibano, o que mais nos surpreendeu foi a queda brusca no número de jornalistas aptos a votar, ou seja, aqueles que se encontram em dias com a tesouraria do "nosso" glorioso sindicato. Fazendo uma continha rápida: se na última eleição local, no dia 16 de setembro de 2008, apareceram para votar mais de 350 jornalistas, todos rigorosamente em dia com suas obrigações sindicais, significa dizer que, nos últimos dois anos, mais de 200 jornalistas paraibanos deixaram de contribuir ou se desligaram do "nosso" sindicato.

Podemos imaginar algo ainda mais aterrador, como supúnhamos naquela época: cerca de 200 jornalistas teriam quitado seus débitos com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado da Paraíba, naquele período, apenas para votar contra a chapa Novos Rumos, que tive a honra de liderar naqueles meses inesquecíveis entre 2007 e 2008. Evidentemente, há uma zona cinzenta na conferência destes números.

São situações como esta que afastam, paulatinamente, os jornalistas de suas entidades de classe, fazendo com que, ano a ano, cresça a aversão dos jornalistas mais críticos e autônomos ao movimento sindical, especialmente aqueles que possuem graduação superior na área. É um fenômeno que só fez crescer no Brasil, de forma mais acentuada e clara a partir do final do século passado, com a chegada ao poder do Partido dos Trabalhadores e a cooptação de lideranças sindicais para os quadros da gestão pública federal.

A eleição na Fenaj é mais um reflexo da apatia da classe trabalhadora com as estruturas viciadas de representação sindical. Uma abstenção eleitoral que ultrapassa os 7 mil jornalistas (quase o dobro do número de votantes) só deve ser entendida como um boicote evidente dos trabalhadores que não confiam mais nos sindicalistas que dizem representá-los na batalha do cotidiano contra os patrões.

*Dalmo Oliveira é mestre em Comunicação pela URFPE, blogueiro do Novos Rumos e assessor de imprensa da Embrapa. Texto publicado no Observatório da Imprensa.

11 de agosto de 2010

INDEPENDENTE


SOLTA - Quando a arte ganha pernas e corre mais livre, mais leve, menos contaminada. | imagem: Cybergarrafa

VALDÍVIA COSTA

Desprender do caos. Encontrar casulo oco no meio do mato ou da praia ou da floresta e viver. Hoje é trabalho. Preso a uma corrente de ilusões que enfeitam um céu estrelado de medo. Receios destrutivos causam confusões e, consequentemente, comodismo. Vejam os artistas. Inspirem-se. Suspirem... Não há coragem de ser. As asas até que servem, mas a covardia reina. Por enquanto, já que a independência está no mesmo rumo do foco.

Sopros frios desconfiados passam pelos ouvidos. São as vozes paradonas dos que não introjectam novos paradigmas, dos que esperam a vida monocromática ou padronizada, igualzinha a que se leva quando se está como estamos, preconceituados. Dar moral a novas práticas, só quando elas bem se encaixam nos conceitos econômicos. Por isso, a arte enclausurou-se. Muitos se recusam a atuar com patomimas de mercados viciados e partem pra um horizonte quase invisível de produção solo.

E não pensem que eles não constroem seus negócios. Aliás, essa força por fora de uma sistemática premoldada de comércio livra a arte de ser um enfeite de canto de parede. Então, nada melhor do que revesti-la de autoralidade, com seus próprios cuidados, alavancados pelos sonhos, muita vezes desacreditados, mas sempre transformados em beleza, no fim das contas. Gera-se uma nova economia cultural e um novo artista.

A esse movimento chamado Contra-Indústria nos unimos, apoiamos, devoramos e difundimos. E o que vem a ser isso se não "um universo de procedimentos, táticas e técnicas de produção de cultura que vêm sendo colocados em prática nos últimos anos pelos autoprodutores", como bem definiu Makely Ka.

Esse estado de incerteza vai dicipar-se. Esse conceito precisa ser absorvido como a uma sopa quente e gostosa, acalentadora do mal-estar causado pela fome e pelo frio. Caminhemos em busca desse alimento! Tão necessário a um estado de liberdade, o termo independência é um dos favoritos do ser humano. Não há quem não queira voar. A arte voa mais tarde que os outros pássaros. Um dia, ela riscará uma nuvem e se autofixará nela.

VIDEOCLIPE PRODUZIDO POR ALUNOS DA UFCG E ARTISTA

10 de agosto de 2010

MEU OURINOL DE OURO


DILUÇÃO - Em tempos de explosões magaloblásticas de novos ricos, a arte vai virar mais uma utilidade? | Hyeronimus Bosch: Plus

OCTAVIANO MONIZ#

De volta às letras. Elas me querem. Mas causam uma confusão infernal. Sobre? Arte é meu prato principal, sem espinhas, please, e garfos de peixe. Sou snob. Como todo bom artista. Não sofro da síndrome de Fabiano de Vidas Secas, que sabia ser um animal. De quatro patas. Por hora tenho duas e uma língua quilométrica.

Ontem no almoço, minha mãe, poliglota e culta, soltou a seguinte pérola: "arte é para decorar". Ativou meus neurônios e tentei explicar pela Teoria da Formatividade de Pareyson que ia mais além. Perda de tempo. E ela é antenadésima em design e moda, curte as tendências da moda e sabe que uma coleção de Dior envelhece rápido. Pois bem, assim é com a arte. O século XX veio à galope, as vanguardas se sucederam e hoje vivemos num pós tudo onde o conceito às vezes é mais relevante que a obra.

O conhecimento antes da expressão. O pior é que ela não está só aqui na Bahia, onde habito por ora. As galerias e decoradores se esmeram para achar quadros que façam pendant com as cortinas. Esculturas só de orixás para proteger a casa e seus rebentos. Vivemos ainda numa época pré-impressionista quando com o advento da máquina fotográfica o caráter de retratar o real perdeu a razão de ser.

Aqui não, o importante é a paleta de cores do pintor e o colecionador chega e pede um quadro verde que combine com seu papel de parede. Os artistas ainda estão coibidos de colocar suas impressões na tela, o que ocorreu em 1890 na Europa. Isto, como diria Hitler, é uma arte de degenerados, temos que ser fieis ao real. A fotografia é um hobby. Mega empresários saem em busca das pérolas da arte acadêmica baiana.

Enquanto Picasso estava devorando tudo com o cubismo, os artistas baianos, que chegaram a viajar ao velho continente, se esmeravam em ser uma máquina fotográfica made in China. Qualidade zero. As galerias da boa terra promovem leilões suntuosos, com salmão e whisky 18 anos. Acredito se algum estrangeiro que frequente o circuito das artes entrar pense ter entrado no tunel do tempo e vai surtar.

Artistas brasileiros como Hélio Oiticica, Lígia Clarck, Lígia Pape ou mesmo Beatriz Milhazes e Eduardo Berliner alcançam cifras que somado o total do leilão não chegam perto. Cada dia mais a arte neo concreta carioca é estudada e valorizada, exposta em museus de todo o mundo, mas escondida pelos marchands locais para não perderem suas viagens de navio de fim de ano, nem as temporadas de ski.

Até quando eles conseguirão enganar estes colecionadores? O que me causa espécie é que muitos viajam muito. Será que não frequentam a Saatchi Gallery, a Gagosian, O PS1 em NY, o Beaubourg em Paris e outras mecas da arte? Os artistas locais têm que se adequar e se quiserem ter vida boa tem que pintar com tons pasteis, aceitar encomendas que combinem com o vaso sanitário e fazer pintura decorativa.

Por isso, não tivemos nenhum artista chamado para a Bienal de Sampa 2010, nem no Prêmio PIPA-MAM-RJ. Goebbels, ministro da Comunicação de Hitler, dizia que uma mentira dita várias vezes vira verdade. É o que fazem estes marchands, com um olho no quadro decorativo outro na pista de ski de Aspen. E o colecionador? Leva seu objeto de decoração para casa, como um abatjour ou um ourinol. Sem o sentido Duchampiano.

A arte baiana é controlada por uma máfia de poucas galerias que, como papagaios treinados e bem trajados dizem: "Oh, está lindo! Vai ficar um luxo com seu tapete persa". Desculpem, vou procurar meu ourinol e fundar a arte conceitual na Bahia. Plágio? Pense num absurdo! Já aconteceu na Bahia.

# Ocataviano Moniz é artista visual e jornalista de Salvador (BA)

9 de agosto de 2010

DESPRENDER-SE


TRADUÇÃO - 1. "Lá vai ele novamente!"; 2. "Esse mesmo cão vem todos os dias e caga no mesmo lugar, em frente de nossa porta frontal!"; 3. "Esta prática deve ser interrompida."; 4. "Eu vou fazer uma pequena bomba de água fora de um saco plástico!" | imagem: Lambiek

VALDÍVIA COSTA

De repente, uma vontade louca de falar pouco, como os quadrinistas. Transcorre em mim aquele sutil desejo infantil de ser pena, de pássaro, da vida... Como não consigo, talvez não com tanta economia humorística, me expressar assim, procuro HQs das mais variadas. A Net me mostra Gilbert Shelton, considerado um dos mais conhecidos cartunistas undergrounds. Tem feito sucesso na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Ser sucinto, Shelton tem trabalhado em Paris os quadrinhos de Rock & Roll 'Not Quite Dead', sobre a banda mais famosa do mundo que nunca fez um CD. Quem dera resolver a vida num segundo como alguns personagens do desenhista! Ele consegue imprimir no silêncio produtivo da charge e enviar em anexo num mailing solto na multidão de internautas que nunca se vê, uma demonstração despretenciosa de talento.

Uns dizem que Gilbert Shelton surgiu com sua paródia de super herói bobo 'Wonder Facócero', que foi publicado em um campus magazine em 1959 (Ranger). O que pesquisamos foi que, em 1969, ele integrou 'The Fabulous Furry Freak Brothers' com Phineas, Franklin Freewheelin'e Fat Freddy. Belo traço, desprendido roteiro.




















Shelton

7 de agosto de 2010

AFROBEATS IRRESISTÍVEIS


ENTREGUE: Menininho não resistiu ao som afrobeat quando da invasão sonora que o abdusiu e chegou à nave mãe afro sorrindo. | imagem: Poplist

VALDÍVIA COSTA

Sons negros, vindos de todos os lugares, invadiram as casas, interromperam o plastificado Jornal Nacional e fizeram a festa. Gostei de vê-los dominando o mundo. A música yorubá, o jazz, o highlife, o funk e ritmos fundidos com percussão africana e estilos vocais, popularizados na África na década de 1970, virou um afrobeat e invadiu o planeta. Invasão dessas, das boas, não ocorrem porque não permitimos.

Por falar nesse estilo, o principal criador do afrobeat e artista nigeriano exclusivo de longa data foi o multinstrumentista Fela Kuti, que cunhou o termo moldando a estrutura musical e também o contexto político do gênero na Nigéria. Imagina a festa que o Fela fez! Sua alegria costumeira está nesse tipo de música. Os sopros parecem sorrisos do artista sempre à vontade nos vídeos, muitas vezes de cueca em sua casa.

Os nigerianos se orgulharam quando souberam do feito de introduzir um som negro na cena branca americana setentista. Kuti regressou de uma turnê dos Estados Unidos com seu grupo "Nigéria 70" (ex-Koola Lobitos) e foi aclamado. O novo som de Kuti arrastou-o do clube Afro-santuário, que ele mesmo construiu.

Ao chegar na Nigéria, Kuti mudou o nome do seu grupo para Fela Ransome-Kuti & África 70. A banda manteve-se por um período de cinco anos de residência no Afro-Santuário (até 1975) e o afrobeat prosperou entre os jovens nigerianos.

As características do afrobeat são as Big Bands, um grande grupo de músicos tocando vários instrumentos; energia energética, empolgante e com alta velocidade, percussão polirrítmica; repetição dos mesmos movimentos musicais; improvisação, apresentação sem conjunto musical; combinação de gêneros, uma mistura de diversas influências musicais; vocais tendem a ser cantadas em yorubá e pidgin inglês como Kuti. Ele considera estas as mais entendidas em todas as línguas das fronteiras da África.

Assistam o grande Deus Kuti...


... e um dos terráqueos abdusidos, Allen...

3 de agosto de 2010

ÉGOISTE


REFLEXO: Uma pessoa que só quer se dar bem na vida, sob o ponto de vista material, só pode ter uma imagem muito bela... para si mesma. | Picasso: Networkedblogs

VALDÍVIA COSTA

Alisei a besta-fera que está presa em mim para que ela não me devore. Ofereci-lhe meus melhores ângulos sobre a vida e sobre as pessoas. Irritei-me com a falta de observação em minha performance que tanto considero perfeita. Não contei conversa, saí esbravejando meus saberes, arrotando meus poderes, estabelecendo a ordem onde antes não existia nada, nenhum tipo de louvável atuação.

Com tantas situações de desarmonia e desvios de condutas éticas e morais atualmente existentes nas sociedades, ninguém percebeu que joguei sujo. Gritei para encobrir o silêncio profundo e inexato que acompanha meu preconceito. Apontei culpados para atrocidades pequenas, o que desviou a atenção dos meus próprios equívocos.

Exacerbada é a minha imagem. Preciso preservá-la, visto que só eu penso em mim mesma. Desconsiderar os pontos de vista dos outros é acentuar minha verdade. Sem alteridade, que é a possibilidade de se colocar na posição e situação de outrem, sou desinteressada. Meus pensamentos, sentimentos e atitudes são sempre voltados para a satisfação de meus próprios interesses.

O monstro em mim necessita de ser sempre o melhor em tudo que faz, de ser o mais interessante do grupo, de obter o sucesso incondicional em todos os empreendimentos. Motivo-me por intenções de superar o outro em tudo o que ele faz. Não hesito em buscar formas de aniquilar aquele que se atreveu a ser meu rival.

As inúmeras artimanhas vis que a besta em mim esboça na vida do outro não evita as contrariedades por que passo. Por isso ofendo-me e alimento esse ser inconformado com tudo com doses homeopáticas de rancores diversos. O confronto comigo sempre é enfadonho, pois venço todos. Minhas vinganças são as mais bem planejadas. Sou incapaz de compreender os motivos que os outros tiveram pra agir de maneira duvidosa comigo.

Não tenho limitações e incapacidades. Eu tenho pressa de me firmar como pessoa. Necessito vencer, a qualquer preço. Para atingir um objetivo, não escondo a falta de escrúpulo. Não vacilo ou sinto remorso em utilizar mentiras. Nem me responsabilizo por atos errôneos cometidos. O que vale, para ele, que é o monstro que me guia nessas condutas, é o império de meus desejos e vantagens obtidas com manipulação daqueles que me rodeiam.

imagem: Blogger
Desconheço e desconsidero qualquer princípio ético. Sou um ser humano que está sempre voltado para a conquista do poder, pouco me importo com a forma como ele poderá ser conseguido, afinal penso de forma racional e nunca me permito ser levada pelas emoções. Não me preocupo jamais com os danos e prejuízos que possa causar a quem quer que seja.

Embora tenha todas essas qualidades que orgulham essa besta, sou um ser suscetível e predestinado ao sofrimento, pois, pouco aprendo com a dor, já que minhas escolhas são normalmente ditadas por esse monstro. Não sou capaz de me envolver e de desenvolver os positivos, como a solidariedade, a fraternidade, a humildade.

O monstro em mim busca uma harmonização. Inicialmente, entre os desejos que sinto e a realidade e, posteriormente, entre esses e as exigências da fera que o corrói por dentro. Ele não é completamente consciente. E me arrasa perante os outros. Mas sou feliz com ele, apesar dessa visão distorcida que as pessoas têm a meu respeito...

2 de agosto de 2010

O ELDORADO EM HQ

Parceria que muito nos agradou foi a que fizemos recentemente com o ilustrador e quadrinista Flaw Mendes. Ele pegou o post Na feira oculta, O Eldorado e transformou-o em gibi, inclusive com uso do texto adaptado em roteiro de História em Quadrinhos (HQ). Adorei! Como são grandes, vou deixá-los (re)lendo os quadrinhos.

Serviço - Flaw participa, a partir de hoje, dia 2, de um exposição bacana. É a I EXPOSIÇÃO DE QUADRINHOS E CARTUNS DE CAMPINA GRANDE, que estará até o dia 14 no SESC Centro e do dia 17 ao 27/08 no Shopping Boulevard. Vamos passar lá e ler o que os artistas paraibanos (ou que moram aqui) estão pintando por aí!